SONATA – no Teatro Sérgio Cardoso até 28/02
A NECESSIDADE DA ARTE
Prof. Especialista Hélton Lima
SONATA – Espetáculo está em cartaz no tradicional Teatro Sérgio Cardoso na Bela Vista até 28/01
“Uma pérola rara!” – É com as palavras de Érico Veríssimo que inicio este artigo, para falar de um espetáculo estonteante, com atuações primorosas e uma direção sublime. Um trabalho que tenho o prazer de participar como assistente de direção de uma das mais renomadas diretoras do país (Christina Trevisan), com uma equipe extremamente competente e dedicada, com atores fantásticos (Ricardo Koch Mancini, Fernando Lourenção e Janaína Alves), um compositor sensível e determinado (Rodrigo Hipólito), uma iluminação que nos toca a alma (Newton Saiki) – SONATA.
E hoje amigos, nosso artigo foi premiado, com as palavras de nossa grande artista, a diretora CHRISTINA TREVISAN!
SONATA – por Christina Trevisan
Depois do processo criativo de colocar em cena um texto teatral, eu fico árida. Pelo menos por um tempo.
E quando me pedem para escrever alguma coisa sobre um espetáculo que dirigi, eu penso: mas escrever o quê, se tudo o que eu pensei, criei e realizei com os atores e com minha equipe está lá no palco?
O que posso dizer, então?
Que SONATA, por pequena que seja, é uma obra. É uma criação. E como tal contém em si mesma o sopro do criador.
No texto está o sopro de Érico Veríssimo – o que ele acreditava, o que lhe afligia, lhe confortava e lhe alimentava a Alma.
Na concepção de encenação e no espetáculo está o sopro do diretor – o que eu acredito, o que me aflige, o que me conforta e o que me alimenta a Alma.
Então, primeiramente o conto: SONATA é um típico representante da narrativa fantástica, onde o real e o irreal se entrelaçam, deixando que o leitor decida o que pertence à realidade ou ao imaginário. Conta a história de um pianista que se acredita medíocre, detesta dar lições de piano para ganhar o seu sustento, foge da realidade que o cerca e busca uma musa como fonte de inspiração.
E de uma maneira intrigante e sobrenatural ele a encontra, sob a forma de um grande e antigo amor. E uma sonata composta especialmente para este amor que resistiu ao tempo e ao espaço, é o elo de ligação entre o passado e o presente.
Agora, o espetáculo – a encenação do conto.
A habilidade de um diretor permite o destaque de um tema escolhido como principal, fazendo-o tocar as camadas de sensibilidade do público – seja de uma forma declarada ou mais sutil. Pela impressão mais poética dos sentidos – as imagens, a música, os movimentos, a luz, ou pela intensidade das palavras e da ação dos personagens.
Brincando com as palavras, escolhi valorizar as escolhas como tema principal, tendo como pano de fundo o amor. E a partir desse tema principal emergem a ousadia mas também o medo do mergulho profundo em cada escolha feita.
O que me trará o desconhecido? A vida ou a morte dos meus sonhos? Ou a descoberta de um novo caminho?
E é através dessas questões que as realidades se entrelaçam.
Para mim, a vida é como SONATA: uma história sem um princípio, um meio e um fim. Por isso quis um espetáculo sem contornos, onde não existe separação entre o que é sonhado, pensado ou vivido. Onde o tempo se distende para acolher a memória e o espaço se desdobra para confundir a realidade.
E como no conto, é o espectador quem decide o que pertence ao real ou ao imaginário. O que é consciente, inconsciente ou transcendente.
A encenação de SONATA está pautada no trabalho do ator, com foco nas relações estabelecidas entre a dramaturgia do texto e a dramaturgia do corpo, nas interfaces entre o Teatro e a Dança.
Como podemos contar a história? Na linguagem da dança ou na linguagem do teatro? Quando que uma avança e a outra recua? Quando elas se entrelaçam para tornar a narrativa mais interessante e sensorial? O que é mais visceral – a imobilidade, o movimento ou a suspensão? O texto ou o silêncio?
Esta foi nossa pesquisa, e nossas escolhas estão no palco.
Sonata é um espetáculo de pausas preenchidas pelas batidas aceleradas do coração, de corridas desenfreadas movidas pelo desejo e de ímpetos suspensos no exato momento da queda.
E agora, a parte prática.
E o que seria eu sem meu elenco? O que eu conseguiria concretizar sem esses jovens atores que mergulharam comigo nessa proposta de pesquisa de linguagem cênica? Ricardo, Fernando e Janaína – todos os três já tinham passado pela minha vida de alguma maneira, e eu sabia que o prazer do processo criativo era uma afinidade inquestionável.
E como seriam os ensaios sem o olhar atento, a tranquilidade inabalável e a organização quase insuportável de Hélton – meu assistente de direção?
E a magia da encenação não ficaria completa sem a música de Rodrigo Hyppólito e a luz de Newton Saiki. Ambas estonteantes. Tampouco os personagens seriam íntegros sem os figurinos de Rosângela.
É assim que eu acredito o teatro: um fazer coletivo.
E é assim que SONATA é tocada: por uma equipe afinada e harmônica. E aqui eu incluo todos os que ficam nos bastidores, nos dando segurança para trilharmos o caminho.
Serviço: Teatro Sérgio Cardoso
Rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista – São Paulo – SP
De 30 de Janeiro à 28 de Fevereiro
Segundas e Terças às 20h / 60 min.
R$ 30,00 (inteira) / R$ 15,00 (meia)
Contato: lima.tonarte@gmail.com