Empresas, prontas para a liderança gay?
Baseado na matéria “Chefe, sou gay”, da Revista Exame, o Canal Itapevi foi conversar com o gerente industrial e estudante de Engenharia de Petróleo e Gases, Cláudio Antônio, sobre sua experiência e visão em relação ao ingresso gay no mundo empresarial.
Diferente do que ocorre com outras minorias, a presença de homossexuais só é detectada quando eles se manifestam. E nunca houve incentivos para isso. Ao contrário. O medo de rejeição está no topo das razões para o silêncio. A falta de exemplos no topo também nunca ajudou. Apenas três em cada dez executivos gays falam abertamente sobre sua orientação sexual entre os colegas de trabalho no Brasil, segundo pesquisa da consultoria holandesa especializada no público LGBT Out Now feita com 12000 profissionais em dez países. Trata-se de um índice baixo – à frente, é verdade, de países como Alemanha e Itália, mas longe do cenário ideal.
Mudar esse cenário exige mais do que decretar que a partir de certa data não poderá mais haver preconceito. “É preciso mudar o modelo mental das pessoas”, diz Glaucy, da Towers Watson. Uma pesquisa mostra que 68% dos profissionais brasileiros já escutaram alguma brincadeira desrespeitosa no escritório no último ano – no México, apenas três em cada dez entrevistados passaram pela mesma situação. “Alguns comentários estão tão incorporados ao repertório que poucos notam a agressão”, afirma Victor Richarte Martinez, pesquisador de gestão da diversidade e professor da ESPM, de São Paulo.
Para especialistas, o aumento da proporção de profissionais declarados no escritório é só questão de tempo. “Profissionais com menos de 30 anos querem saber se a empresa tem um ambiente aberto antes mesmo de aceitar uma proposta de trabalho”, diz Augusto Puliti, presidente da consultoria de recrutamento DMRH. Os avanços nas empresas refletem o que se passa na própria sociedade. E o mundo corporativo, que já foi uma das fronteiras mais resistentes, começa a escrever uma história diferente.
Revista EXAME 29/04/2015
Cláudio, que atualmente coordena 18 pessoas numa produção, diz que para uma empresa ser líder no mercado, ela deve mudar a forma de pensamento; como algo vivo, um organismo. “Tem muita empresa que não está preparada para a liderança gay. Não é somente o profissional assumido que é f*d@, a empresa que assume esse profissional também é! A empresa deve se adaptar ao perceber que as pessoas no mercado são diferentes”.
Quebrar padrões sempre é um desafio em empresas conservadoras. “Me consideram diferente! Em relação as decisões que eu tomo, o modo de pensar, de agir, de falar… sou muitas vezes visto como rebelde. Mas já mudei muitas coisas, quem sabe não mude mais ainda…”, diz o gerente industrial.
Com suas próprias barreiras ainda a quebrar, Cláudio conta do receio da exposição; “Sempre tive! Todo mundo tem isso porque as pessoas não estão preparadas pra nada! E não é só questão de sexualidade, é religião, cor, opinião diferente… O problema não é o ser, a ação. O problema é a reação – as pessoas não estão preparadas pra muita coisa. Eu tenho que ser muito forte. Os gays têm medo de serem vistos como frouxos, logo cedo, desde criança temos que lutar para sobreviver no meio das pessoas. Sempre temos que estar interpretando, escapando, contornando… por isso nos tornamos fortes, por isso somos bons!
27 anos se passaram desde que o gerente industrial começou sua vida profissional como auxiliar de pedreiro. No último sábado, 05/09, o canal Itapevi foi conferir a comemoração dos 41 anos do Cláudio no bar de seu amigo.
Por: Paula Lopes